Como ela faz e acontece: Glenda Moreira, líder de diversidade, equidade e inclusão para América Latina na Amazon – Vogue

Glenda Moreira (Foto: Allan Neumann Vaz / Divulgação)

Antes de encarar o desafio de liderar a área de diversidade, equidade e inclusão de varejo da Amazon para toda a América Latina, Glenda Moreira, 46 anos, passou por outras áreas. Sua longa jornada até aqui contou com experiência como lavadora de pratos em Londres e guia turístico no Pantanal. “Trabalhei por 10 anos prestando consultoria em recursos humanos para os mais diversos setores até fazer uma transição de carreira para a indústria farmacêutica. Nela, encontrei meu propósito em colaborar com o desenvolvimento humano, através dos processos seletivos, uma vez que isso estava alinhado ao propósito de negócio de prolongar o bem-estar e a longevidade das pessoas”, diz ela que se desenvolveu na Abott, Johnson & Johnson e Novartis.

Em fevereiro de 2021, Glenda deu um grande passo: abriu a Ikigai, consultoria em diversidade e psicologia. “Sou psicóloga de formação, então aproveitei para ‘acordar’ essa parte adormecida do meu lado profissional. Nesse período, que chamo de detox corporativo, consegui passar pelas dores e sabores de ter minha carreira em minhas mãos. Precisava respirar sem os aparelhos que os crachás tinham me colocado por tantos anos e viver experiências completamente diferentes e importantes. Me conectei com pessoas incríveis, fiz grandes parcerias com muita gente boa no mercado e percebi que tinha meu próprio valor, que era reconhecida por gerar impacto para além de qualquer sobrenome corporativo. Passei a ser realmente a Glenda, com meu conteúdo, meu background, minha comunicação e toda a liberdade de ser genuinamente quem eu sou.” Nessa época, Glenda se tornou mais ativa com voluntariado. “Hoje, sou facilitadora da frente de D&I no Projeto Jovens do Brasil, e mantenedora da ABMLBTIs (Associação Brasileira de Mulheres Lésbicas, Bissexuais, Trans e Intersex)”.

“Mas, Alexa, por que a Glenda voltou para o mundo corporativo?”, Glenda se provoca e responde. Quando viu a divulgação da vaga que hoje ocupa, ela diz que a ignorou “para não cair na tentação”. “Eu estava feliz e realizada e não pretendia voltar para o mundo corporativo. Mas depois da tentativa frustrada de ignorar a vaga, comecei a receber mensagens de amigos falando: ‘é a sua cara’, ‘você precisa se candidatar…’”

“Depois de muito refletir e pensar no impacto real que eu poderia ajudar a criar em uma empresa global, com mais de 1,5 milhões de funcionários no mundo, e com uma marca forte e reconhecida, passei a considerar a possibilidade, mas com um compromisso comigo mesma. Eu seria 100% quem sou no processo seletivo e, se não desse certo, seria o sinal de que o detox corporativo deveria continuar…”

Deu certo. Glenda está há 9 meses no cargo e conta abaixo um pouco da sua rotina.

Como encara seu maior desafio este ano: “Meu desafio é similar ao de outros profissionais de diversidade, equidade e inclusão em outras organizações: criar consistência na pauta para gerar valor na cultura, na gestão de pessoas e no negócio, refletindo a pluralidade que temos em nossos clientes.

Um dos meus princípios favoritos de liderança da Amazon é: ‘Sucesso e escala trazem ampla responsabilidade’. Ele está superconectado com meus desafios, uma vez que diariamente preciso garantir que tudo se encaixe dentro dos nossos valores, que são a espinha dorsal de tudo que fazemos aqui dentro. Ser a melhor empresa para se trabalhar no mundo requer um olhar profundo no que diz respeito a representatividade e ambiente inclusivo. Ser a empresa mais focada no cliente também traz a responsabilidade de ter aqui dentro, em todos os cargos e áreas, a diversidade presente nos públicos que atendemos.

Diante disso, diria que meu desafio maior é o de juntar tudo em um grande mosaico estratégico que faça sentido interna e externamente. Nós já temos processos e o apoio das lideranças, então agora o próximo passo é organizar e avançar de maneira consistente e real para transformar as realidades. Na verdade, esse é um desafio de longo prazo, que requer muita atenção, dedicação e intencionalidade. Somos bastante conscientes das dificuldades que o nosso país tem na formação das pessoas, por isso temos que ser socialmente responsáveis. Um exemplo são as oficinas de desenvolvimento em parcerias com instituições e as ações que visibilizam grupos minorizados de mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+, entre outros.”

O maior orgulho de fazer esse trabalho: “Criar uma cultura que de fato quer ser inclusiva e respeitosa. Nossa liderança trabalha todos os dias para criar um ambiente de trabalho mais seguro, empático, mais produtivo, com melhor desempenho, mais diversificado e justo. Eu recebo muitos feedbacks das pessoas após reuniões e eventos, que saem com os olhos brilhando e felizes por estarem presenciando o impulsionamento dessa pauta. Como a liderança especialmente do Brasil é muito engajada, estamos começando a ganhar ritmo e já vemos um aumento no engajamento das ações e na troca com as pessoas. Boa parte do meu dia é fazendo reunião com pessoas que querem falar, colaborar e ajudar, tanto a liderança quanto os colaboradores. E, confesso, essa é a parte que eu mais amo: não tem preço ver as pessoas genuinamente se colocando à disposição de uma pauta que beneficiará a todas as pessoas – claro, também beneficiará os negócios, mas agora o foco do meu coração está nas pessoas.

O próximo passo é termos maior participação dos grupos de afinidades nas tomadas de decisão, tanto no que diz respeito às pessoas, quanto nos negócios. Por isso, elegemos representantes da alta liderança para abraçarem essas frentes. Eles recebem mentorias reversas para garantir que tenham o conhecimento necessário e têm um papel fundamental, não só na disseminação desse letramento, mas também de serem modelos no combate a qualquer tipo de discriminação e preconceito desde os processos de seleção até promoções e avaliações de desempenho. Estamos buscando garantir que toda a gestão de pessoas seja cada vez mais justa, eliminando os vieses por meio de conhecimento.

Vejo um grande apetite e abertura para seguimos de maneira intencional, mas sem atropelar as coisas. Então, isso tudo me deixa muito orgulhosa. Sei bem das dificuldades que temos em colocar essa pauta como parte de tudo que fazemos e já vivi isso na pele, então estou muito animada com todas as possibilidades que temos por aqui.”

Glenda Moreira (Foto: Allan Neumann Vaz / Divulgação)

Glenda Moreira (Foto: Allan Neumann Vaz / Divulgação)

Como organiza a rotina: “Acordo às 6hs da manhã todos os dias. Costumo dizer que gosto de me atrasar devagarinho… Faço café com leite, abro as redes sociais – é onde vejo conteúdos distintos para ter uma melhor perspectiva do mundo e é ali que me abasteço com informação. Me aprofundo no que me chama a atenção e o restante deixo passar. Às 6h30 acordo meu filho. Enquanto ele se arruma para ir à escola, faço o leite dele e arrumo o lanche.

Às 7h15 já estou de volta e pronta para trabalhar. Produzo muito bem pela manhã. Olho os e-mails mais importantes e checo a agenda para garantir que eu esteja preparada para as reuniões do dia.  Eu sempre fiz exercícios pela manhã porque tenho mais energia assim que acordo, mas resolvi pausar para me dedicar ao final da pós-graduação em Direitos Humanos e Responsabilidade Social na PUC-RS. Fazer o TCC, cuidar do filho, redirecionar a vida profissional, liderar em uma empresa nova e ainda malhar era muito para mim…

Deixar o exercício de lado não foi uma decisão fácil porque me cobrei muito de ter que fazer tudo isso, mas me perdoei por ser tão dura comigo mesma: não tenho que dar conta de tudo, vi que preciso ser feliz sendo quem sou e quem consigo ser.  No dia em que completei 46 anos decidi que ia subir os 15 andares de escada até em casa toda vez que voltasse da escola do meu filho e assim tem sido. É o que dá. Estou numa fase de me permitir ser quem sou, de ter limites e de falhar em algumas expectativas que eu mesma me imponho.

Se eu tivesse tido esse mesmo olhar para o mundo alguns anos atrás, teria assumido meu cabelo crespo e volumoso há muito mais tempo e teria sido mais eu e bem mais feliz… Foram anos e anos alisando, pintando e buscando atender a expectativa do mundo, como se eu só pudesse ter sucesso e ascender na carreira se eu fosse ‘daquele jeito’. Acontece que ‘daquele jeito’ não sou eu, nunca foi. Eu não tinha autoestima e via muito menos o meu sorriso naquela época. Meu cabelo exige espaço, então os outros que deem licença porque agora ‘nós’ somos livres e isso não tem preço.”

Como se organiza: “Sou de natureza caótica, então a minha luta é cumprir tudo o que eu me propus em um dia, sem ‘comer bola’. O resumo da minha vida é um priorizar e ‘repriorizar’ constante e, assim, a vida vai dando certo. Aprendi a criar algumas regrinhas para ajudar a manter as demandas fluindo, então estabeleci os dias em que trabalho para o Brasil e os dias em que foco no México. Assim, criei um modelo mental que me permite ter mais profundidade nos assuntos específicos de cada país.

Além disso, tenho um caderno para rascunhos e ali misturo assuntos pessoais e profissionais. Em um outro caderno só profissional levo a organização mais a sério: lá, listo os principais assuntos que preciso direcionar, anoto os insights que tenho durante as reuniões. Eu amo estar 100% presente nas conversas e poder olhar para a expressão das pessoas enquanto elas falam. Durante essa observação me surgem ideias e consigo ver quem já entendeu seu papel, quem precisa da minha ajuda e como. Se queremos nossas pessoas felizes e sendo a sua melhor versão, precisamos estar atentos ao que faz essas pessoas felizes. Quando os olhos brilham? Onde recuam e se retraem? Tudo isso é material de trabalho para mim.”

Como cuida da rotina no trabalho: “Boa parte da minha rotina é estar nas reuniões, sejam com os países ou com a estrutura global, onde me atualizo sobre as principais atividades do período. Ainda faço muitos treinamentos internos, principalmente sobre as diversas ferramentas que temos para mensurar o progresso. A Amazon trabalha com dados, então essa é uma parte muito importante para sobreviver aqui dentro e, mesmo não sendo da minha natureza, sei que só terei êxito se desenvolver essa habilidade. Tem sido muito interessante me ver aos 46 anos refletindo sobre habilidades que tenho que desenvolver e, ao mesmo tempo, reconhecer onde eu já mando bem e faço a diferença. Estar numa organização que respeita e acolhe isso é inspirador. O que se vê no mercado, em geral, é uma busca por profissionais 100% prontos, mas aqui eu trago o que tenho de melhor e desenvolvo o que preciso, simples assim.
Uma outra parte da minha rotina é gerar engajamento junto aos times, por meio de workshops de sensibilização, treinamentos e conversas. Aqui, eu renovo a minha energia. Ou seja, é um yin-yang o tempo todo.  Essa é a minha matéria-prima para ajudar a ‘polir’ a cultura da Amazon para sermos os melhores empregadores do mundo.”

Como cultiva a criatividade: “Quando eu decidi abrir a minha consultoria, fui muito guiada pelo meu propósito de realmente fazer algo que tivesse um impacto positivo nas pessoas e pelo eco de muitas vozes dizendo que eu as inspirava por meio do que eu falava e fazia. Ouvir tudo isso foi me permitindo abrir espaço interno para que eu mostrasse mais quem eu sou de verdade. O autoconhecimento tem me feito aprender o que eu nem imaginava que tinha. Aprendi que meu modus operandi caótico não é necessariamente ruim. Pelo contrário: muita gente se conecta comigo justamente por isso – o que é genuíno em mim.

No mais, eu procuro ter no meu dia a dia atividades que eu amo e me conectam genuinamente com as pessoas. Isso me ajuda a manter o olhar atento às oportunidades de trazer uma nova visão ou de gerar valor às pessoas e projetos, pois gero relações de confiança. Gosto muito de trabalhar em colaboração, de maneira que todas as pessoas possam trazer ideias e agregar sem receio de estarem falando bobagens porque isso também nos faz pensar e buscar caminhos novos. Minha criatividade vem do mundo real, das dores.”

Como cuida da saúde física e mental: “Beber água e me alimentar bem já é rotina e é para vida. Não faço dieta e como bem sempre. É uma decisão de vida a longo prazo e não é pelo corpo externo, mas pelo bem interno mesmo. Para manter a minha sanidade mental, tenho buscado me reconhecer como potência para além dessas imposições: eu sou o que dá para ser e estou achando um espaço de conforto e acolhimento interno para isso.  Meu marido é um grande aliado nessa trajetória. Ele reconhece em mim coisas que eu não vejo e confio nele o bastante para me mostrar vulnerável, para chorar e falar do que me faz sofrer, do que tira a minha confiança. Ter esse espaço de amor e acolhimento incondicional é o que me mantém mentalmente saudável, principalmente nos momentos de tomada de decisão mais críticos, como no período em que resolvi empreender e agora com a responsabilidade que tenho junto à Amazon.”

Glenda Moreira (Foto: Allan Neumann Vaz / Divulgação)

Glenda Moreira (Foto: Allan Neumann Vaz / Divulgação)

Como lida com as frustrações no trabalho: “Depende. Se for algo que esbarra nos meus valores, tendo a lutar pelo que acredito e não deixo passar, não desisto. Agora, se for por algo que ao fim do dia eu posso relevar, não prolongo o desconforto pensando sobre isso. Aprendi a me adaptar ao que não concordo, porque não faz diferença e eu posso até vir a gostar depois, como já aconteceu algumas vezes. Então, me deixo surpreender. Quando a gente fala de propósito, de alinhamento de valores das pessoas com as empresas, é dessa troca entre as partes. Conviver dá trabalho mesmo, às vezes frustra, dá raiva ou tristeza, mas quando você sabe dos seus valores, tudo fica com outra cor. É preciso ter coragem para viver alinhada ao seu propósito.”

Como se mantém produtiva: “Eu tenho organizado até a procrastinação e me colocado limite para fazer o que eu não gosto, assim deixo mais espaço interno e externo para fazer as coisas que gosto mais. Isso tem ajudado bastante, mas é difícil. Hoje, por exemplo, é domingo e estou cheia de energia, então abri o computador e organizei tudo. Li os e-mails para que amanhã, segunda-feira, eu tenha um dia com menos pressão e, então, possa me dedicar com calma ao que amo. O modelo híbrido tem ajudado muito porque faço meus horários e ajusto a minha vida e energia de acordo com o que preciso. Ter essa liberdade, apesar de ‘work hard’, é uma parte que eu gosto muito da Amazon.”

Estilo de liderança: “Livre. Eu odeio ser chefe. Não tenho hierarquia. Se alguém do meu time sabe mais do que eu ou se teve uma ideia melhor do que a minha, vamos lá porque o importante é gerar solução para o cliente. Eu gosto de ver as pessoas atuando em plenitude, com brilho nos olhos e se sentindo valorizadas. Eu acredito que meu papel é ajudar as pessoas a acharem as suas potencialidades. Eu faço o contorno e elas pintam e bordam: dou o direcionamento estratégico e deixo claras as metas e desenhamos o caminho juntos, ajustando o que é preciso.

Sou leoa, defendo meus times e não tolero injustiças. Nunca tivemos espaço para conflitos internos na minha equipe porque faço questão de garantir que as pessoas se respeitem. Não precisa concordar, mas respeito não se negocia.”

Como incentiva o trabalho de equipe: “Trabalhar com aquisição de talentos é muito desafiador porque se tem muita pressão o tempo todo. Organização, entendimento do modelo de negócio e uma boa leitura de pessoas são algumas das habilidades das quais não se pode abrir mão. Por isso, ter um time com características diversas ajuda muito porque vivemos a ambiguidade de perspectivas e a vida real é o que, de fato, faz a diferença para os times. Isso gera confiança para desafiar, pensar diferente e encarar as dificuldades juntos. Quando falamos sobre ambiente seguro não é nada mais do que isso: poder ser quem você é sem julgamentos. Vida real, para mim, é isso. Eu respeito meus clientes, sou ética, respeitosa, focada em achar a melhor solução e acho que isso inspira as pessoas. Walk the talk – simples assim.

Agora, trabalhando com diversidade, o desafio é ainda maior que na função anterior: eu não tenho time direto, mas lido com centenas de pessoas liderando os projetos. Ou seja, uma liderança indireta que leva o desafio de gestão de pessoas à máxima potência. A receita para mim continua a mesma: ser real, genuína nas intenções e respeitar as pessoas. Com isso, as soluções vêm.”

Como como gosta de terminar o dia: “Em geral, consigo me desconectar entre 18h e 18h30. São raros os dias em que preciso ir até mais tarde. Gosto de dormir cedo, então organizo tudo para não ficar muito além. Às quintas e sextas-feiras, fecho o dia com uma taça de vinho enquanto organizo o jantar com meu filho, momento em que conversamos. Isso quando consigo que ele venha à mesa – adolescência é uma delícia, não é mesmo?! Eu amo ser mãe. Por isso, o dia termina bem quando interajo com ele. Meu marido mora em uma casa separada, então, à noite, é quando a gente se fala com calma. Às 21h30, estou pronta para dormir.”

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