Doutor Jairo · Fatores do estilo de vida influenciam envelhecimento agudo da pele

De repente você olha para o espelho e vê uma pessoa envelhecida: de onde vieram essas rugas? E essas bolsas sob os olhos que não estavam aqui ontem? Num rompante de desespero pega o telefone e marca uma consulta em meu consultório de cirurgia plástica. Tipo ataque agudo de envelhecimento, rejuvenescimento de urgência. Calma, pode haver razão para um envelhecimento mais rápido. Situações inflamatórias, quando há aumento súbito de radicais livres como infecções, estresse emocional, luto, Covid, podem refletir de maneira rápida na pele. Ou nada disso e simplesmente envelhecemos.

A primeira coisa a se fazer é conversar com essa pessoa do espelho. Há quanto tempo você não se olha desta forma? Será que a vida anda corrida demais, problemas demais, chefe surtado, filho com Covid? Será que há tempos você não reserva um período para um autocuidado, um hidratante, filtro solar pela manhã. Tem tomado água? Então vamos lá com algumas explicações e soluções.

Alimentação

Vamos nós falar novamente o quão inflamatório é o açúcar. Carboidratos simples como açúcar são rapidamente digeridos e absorvidos chegando em forma de glicose no sangue, que é o que chamamos de glicemia. São os carboidratos com alto índice glicêmico. A glicose tem de ser removida imediatamente do sangue, pois não pode alterar de jeito nenhum o sangue. Como se adicionarmos açúcar na água, a água fica gosmenta, mais espessa: o sangue não pode de forma nenhuma perder a viscosidade normal. E começa uma grande operação de guerra para resolver isso.

Nos picos de glicemia alta, mesmo que por pouco tempo, a reação do organismo contra esta glicose é tão poderosa que, além desta via normal de diminuir a glicemia, as enzimas, que não as habituais, são requisitadas para ajudar no processo, o que gera produção de radicais livres. Muitos deles. Na pele, o excesso de radicais livres pode danificar o DNA das células provocando menor atividade celular, menor produção de colágeno e fibras elásticas, menor atividade de células de defesa, menor poder de cicatrização, e até tendência maior a câncer de pele.

E ainda, se tudo isso não for suficiente, a glicose reage com proteínas do organismo que é a chamada glicação. A glicação das proteínas é piorada pela presença dos radicais livres em excesso. A glicose pode “grudar” na hemoglobina (hemoglobina glicada do seu último checkup), na gordura, no DNA e também no nosso querido colágeno!

A curto prazo estes efeitos são bem perceptíveis. Após um final de semana de comilança, do tipo pé-na-jaca, ingestão de bebidas alcoólicas e muito doce, acordamos inchados, com bolsas sob os olhos e até alguns quilos a mais. Pode até ser que aumentamos de peso, mas com certeza é muito mais inchaço do que gordura, propriamente dita. O álcool á parecido com a glicose, mas a molécula é menor e mais facilmente absorvida, aumenta de forma mais rápida ainda a glicemia. O índice glicêmico do álcool é ainda maior que o do açúcar. Isso provoca um aumento enorme na produção de radicais livres e glicação, de certa forma uma inflamação generalizada. O armazenamento de glicose, num primeiro momento é em forma de glicogênio, que requer muita água. Por isso sentimos sede após comer açúcar, e consequentemente inchamos, retemos água para dar conta desse excesso de açúcar e radicais livres.

Fatores externos

Na pele, além destes fatores endógenos como aumento de radicais livres e glicação, temos fatores externos. O maior vilão é o sol. A pele exposta ao sol sofre um aumento súbito da quantidade de radicais livres, que tem a função de provocar defesas contra o efeito dessa radiação, como espessamento da derme, aumento da produção de melanina, que é um pigmento que impede os raios solares de penetrar na pele, glicação, perda da elasticidade da pele, que vemos representados como rugas, manchas, flacidez, é o chamado fotoenvelhecimento. O estresse oxidativo é tão grande que danifica o DNA e favorece o aparecimento de câncer de pele.

Tabagismo

O cigarro diminui a circulação sanguínea de vasos pequenos da pele, além disso, na fumaça do cigarro foram encontradas proteínas glicadas que vão diretamente para a circulação sanguínea e refletem diretamente na pele.

Estresse

O estresse psicológico está ligado a aumento de estresse oxidativo: ele aumenta a produção de cortisol, que nos prepara para fugir, sair correndo, é o hormônio tipo sinal de alerta, e com isso temos maior produção de radicais livres e diminuição da produção do sistema antioxidante.

Esse inflama e desinflama, incha e desincha compromete fibras da pele, gera um efeito cumulativo de radicais livres e glicação de colágeno e fibras elásticas e predispõe a flacidez e envelhecimento.

O que fazer?

Primeira medida: respire, olhe-se com carinho, como se fosse uma amiga sua no espelho; autocompaixão é a palavra! A somatória de fatores pode diminuir o estresse oxidativo no organismo todo e inclusive na pele.

Quanto à alimentação, passe a se preocupar com o que come. Pesquisar o índice glicêmico dos alimentos é fácil, várias informações estão disponíveis na internet. Fuja de alimentos com alto índice glicêmico como açúcar refinado, farinha branca, álcool. E, sorrindo, faça escolhas saudáveis e gostosas. Mudanças pequenas podem fazer grande diferença.

Comer pensando na comida que está no prato é um grande começo. Comida ruim é insuportável, então escolher o que se come já ajuda muito; é possível comer uma comida gostosa e saudável, mas não é fácil. Pedir ajuda para uma nutricionista é um ótimo começo. Uma tendência em que acredito hoje é a nutrição comportamental, que fala de comida, de prazer em comer, de consciência ao comer.

Nosso organismo é realmente perfeito. Temos um sistema muito eficiente de antirradicais livres, ou sistema antioxidante. A primeira barreira são as vitaminas, resveratrol, e tudo aquilo que já ouvimos falar sobre detox (pode investir na couve, no suco verde, cúrcuma, etc., pois realmente funcionam). A alimentação saudável vai repor muitos ativos antioxidantes como vitaminas e sais minerais que faltam em dietas com muito carboidratos. Muitas vezes se faz necessário suplementação com antioxidantes.

Para desinchar, o melhor a fazer é beber muita água! Tomar diurético não ajuda em nada, sobrecarrega os rins, pois o corpo precisa deste excesso de água para “desinflamar”.

Entenda também que o maior estimulante do nosso sistema antioxidante é o exercício físico. O exercício provoca a produção de radicais livres, mas para se proteger o organismo produz em escala muito maior antioxidantes naturais, que protegem todo o organismo destes radicais livres. Por isso, quem faz atividades físicas tem menor chance de doenças cardiovasculares, pressão alta, doenças neurológicas degenerativas e vivem mais.

Quando fazemos exercício físico precisamos de mitocôndrias, que são usinas de energia. A fabricação delas é a maior faxina de radicais livres que podemos oferecer ao nosso organismo. A pele rapidamente sente estes efeitos e melhora a produção de fibras de colágeno, diminui até a glicação.

Mexa-se mais, vá a parques, conheça lugares diferentes, visite amigos, esqueça escada rolante, suba escadas, ande a pé. Atividade física funciona em qualquer intensidade, movimentando-se mais vai dar mais disposição até para evoluir para exercícios físicos.

Outro potente antioxidante é o sono. Pode parecer exagero, mas é verdade. Pacientes com insônia, apresentam maior estresse oxidativo. Nossa avó já falava sobre o sono da beleza, dormir emagrece, a gente cresce enquanto dorme. Sim, tudo isso é verdade, um sono reparador, de boa qualidade é antioxidante. Se preciso, procure ajuda profissional.

Sabemos que é impossível acabar com nosso estresse, mudar para o Butão e virar monge pode ser um estresse ainda maior. Boletos chegam, filhos demandam, chefe surta. Quimicamente falando temos de encontrar maneiras de interromper a produção de cortisol e aumentar serotonina, endorfina e outras ninas. Meditação está mais do que provado que diminui o estresse oxidativo globalmente.

Escolha alguma atividade, de preferência com gasto de energia, que mantenha seu cérebro pensando em outra coisa diferente da sua rotina. Dança, beach tênis, luta, música. TV é muito passivo, evite.

Faça atividades prazerosas, visite amigos: likes não são suficientes. Finais de semana servem para sair da rotina, disfrute, invente passeios.

Os descansos interrompem o ciclo vicioso do estresse, investir em experiências provoca a produção de hormônios do bem que são antioxidantes e certamente refletem na pele.

Por fim, lembre-se de iniciar e manter uma rotina de cuidado com a pele (está na moda o termo skincare!). Limpe e hidrate a pele antes de dormir e aplique filtro solar pela manhã. Simples assim. Obviamente temos uma infinidade de ativos, cremes e tecnologias que podem auxiliar nesse detox e combater o envelhecimento cutâneo, mas medidas simples já fazem muita diferença.

Quanto melhor o metabolismo e a qualidade do colágeno, mais eficaz será qualquer procedimento estético. A chave dos procedimentos estéticos é o estímulo de colágeno. Paciente com estilo de vida saudável com dieta equilibrada, praticante de atividades físicas, qualidade do sono adequada, possui células com metabolismo melhor, capazes de responder melhor a qualquer estímulo.

A preocupação não deve ser somente a pele. Pense no seu estilo de vida: a boa qualidade da pele depende dele!

*Beatriz Lassance é cirurgiã plástica formada na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e residência em cirurgia plástica na Faculdade de Medicina do ABC. Trabalhou no Onze Lieve Vrouwe Gusthuis – Amsterdam -NL e é Membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery) e da American Society of Plastic Surgery. Além disso, é membro do American College of LifeStyle Medicine e do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida. Instagram: @drabeatrizlassance

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