“Sou nutricionista e, neste final de ano, quero que você conte memórias ao invés de calorias” | Corpo

“Eu sou Fernanda Imamura, nutricionista, e meu desejo para este final de ano é que você substitua sua culpa com a alimentação por uma relação mais tranquila com a comida.

Com a chegada das festividades natalinas, a comida vai ocupando um local de destaque nos eventos e confraternizações, o que pode ser bastante desafiador para aqueles que possuem uma relação conturbada com ela. Dilemas como “vou comer tudo e engordar 10 kg nesse período” ou “vou seguir firme na dieta e não vou me permitir comer nada” vão surgindo nesse período e uma época que deveria ser alegre e prazerosa acaba se tornando angustiante para muita gente.

A cultura da dieta, infelizmente, está inserida na nossa sociedade e ela é responsável por essa visão dicotômica sobre a alimentação. Ela nos ensina que a alimentação saudável é sinônimo de rigidez e sofrimento, mas o que ninguém te conta é que as dietas restritivas são feitas justamente para não funcionarem e que há uma indústria lucrando milhões com todo esse terrorismo alimentar

A alimentação saudável não tem nada a ver com esse tipo de dieta, pelo contrário, deve respeitar o contexto social e cultural, deve ser variada, deve ser prazerosa e envolve ter uma relação saudável com o que há no prato. Portanto, nas festas de final de ano, é esperado que a nossa alimentação seja diferente — afinal de contas, comida é cultura!

Ninguém vê grandes mudanças porque come de forma diferente durante esse período, aliás. Nosso corpo consegue lidar com os excessos e depois é só retornar para a rotina. Ninguém precisa fazer jejum ou detox após as festas: pode deixar que seus rins e seu fígado dão conta do recado, apenas lembre-se de beber água. E nada de se matar na academia: você não precisa “compensar” o que comeu. Esse tipo de comportamento não é nada saudável.

Cada família costuma ter suas tradições culinárias. Na minha, antigamente, as festas de final de ano eram na casa da minha avó com todos os tios e primos. Logo, a mesa era bem farta e variada pois cada um levava um prato. Depois que minha avó faleceu, a família foi se dissipando e hoje em dia passo apenas com meu núcleo, então também fomos adaptando a comida para essa ocasião. Não fazia mais sentido fazer diversos pratos para poucas pessoas, então decidimos fazer apenas um que todos gostam bastante — o que geralmente envolve peixe e frutos do mar, tipo moqueca ou bacalhau e sempre é preparado pela minha mãe. De sobremesa, eu tenho preparado um bolo de sorvete com caramelo (receita da Rita Lobo!) que já virou tradição de final de ano. No dia seguinte à ceia, meu pai é o responsável pelo churrasco, que sempre acompanha uma boa maionese e já é de lei aqui em casa. Tudo isso me remete a momentos bons com a família e tenho certeza que se você pensar nas comidas que te recordam esse período, virão muitas lembranças ao redor da mesa.

Comida é identidade, é memória e afeto. A comida acolhe e abraça. Pode parecer clichê, porém a comida não serve só para nutrir nosso corpo, ela serve também para nutrir nossa alma. Quando você se permite ter prazer e aproveitar essas confraternizações com aqueles que você ama, também se conecta com sua família, suas tradições e a sua história.

Não faz sentido e nem vale a pena se privar de vivenciar esses momentos em prol, supostamente, de um corpo magro. A vida é muito curta e, no final, o que ficam são exatamente os momentos.

Daqui a uns anos, quando você olhar pro passado, não vai fazer diferença o tamanho de calça que você vestia ou o seu peso da balança. O que fará diferença são os momentos que você viveu.

Se tudo que te contei até aqui fez sentido pra você, mas lidar com a comida ainda é muito sofrido, saiba que você pode buscar ajuda profissional, tanto de uma nutricionista comportamental quanto de uma psicóloga. A mudança nessa relação nem sempre é um processo fácil, mas te garanto que vale muito a pena.

Eu te desejo um final de ano com menos culpa e mais prazer! Que tal encerrar o ano sendo mais gentil com você e contando memórias ao invés de calorias?

Mais algumas dicas valiosas para as festas de final de ano:

  • Não restrinja a alimentação nesse período e coma normalmente antes das festas. Reduzir a quantidade só vai intensificar a sua fome e pode aumentar a chance de descontrole alimentar.
  • Durante as festas, olhe todas as opções que estão sendo servidas. Tente afastar os julgamentos sobre a comida e perceba aquilo que realmente está com vontade.
  • Coma com calma, aproveitando e degustando com atenção. Tente ir percebendo sua fome e sua saciedade e avalie se quer repetir o que estava mais gostoso.
  • Por mais que os pratos sejam deliciosos, você não precisa comer até passar mal. Essa ideia que tem que comer tudo hoje, porque amanhã não será mais “permitido” é um resquício da mentalidade de dieta e prejudica a relação com a comida. Se amanhã você ficar com vontade de alguma comida específica, tem a permissão de comer novamente.
  • Independente do tamanho do seu corpo e do seu peso, você tem o direito de aproveitar este período.
  • Falar sobre o corpo e a alimentação do outro é desrespeitoso e desagradável, por isso, não faça esse tipo de comentário. Se você passar por essa situação e alguém comentar algo que te deixe desconfortável, lembre que não tem nada de errado com você e esse comentário diz mais sobre a pessoa do que sobre você.

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