Como lidar com os transtornos alimentares durante as festas de final de ano? | Drauzio Varella





Festividades regadas a excessos de comida e bebida podem ser gatilhos. Saiba como passar pelo período, mantendo-se mentalmente saudável.

 

Natal e Ano Novo são conhecidos como as datas dos excessos: uma boa festa é regada a muita comida e bebida, popularmente símbolos de fartura. É como se, depois de um ano difícil, estivéssemos todos liberados para exagerar no que quiséssemos. Além dessa lógica não ser nenhum pouco saudável por natureza, tal mentalidade torna o período extremamente delicado para quem tem algum tipo de transtorno alimentar (TA). 

A pressão por ter ou não ter que comer, a ideia de ser julgado pela quantidade de alimento ingerida, o pensamento fixo em como a comida vai refletir no físico. Esses são apenas alguns dos gatilhos vivenciados por essas pessoas nessa época do ano. Em vez de um momento de descontração, as festividades se tornam períodos de sofrimento psicológico. Adriana Severine, psicóloga especialista em terapia cognitiva-comportamental, contextualiza. 

“Associamos as comemorações a momentos em que vale tudo porque ainda temos o pensamento errôneo de que comer de forma saudável é se privar, fazer dietas, e não uma forma de vida plena. Então, esperamos essas ‘folgas’ para podermos comer tudo de que nos privamos, enquanto o saudável seria estabelecer uma dieta equilibrada, na qual você pode colocar alguns alimentos não tão saudáveis em menor quantidade e frequência, para que não gere tanta ansiedade nos momentos nos quais você se considera ‘liberado’ para comer.”

Ela cita um exemplo: “Se você nunca toma um sorvete, quando tiver a oportunidade de tomar, uma bola não será suficiente. Você já vai acreditando que precisa de quase um litro para saciar sua vontade, pois criou uma necessidade baseada na sua ansiedade”.

        Veja também: Transtornos alimentares: Entenda como o padrão de beleza pode ser um fator de risco para anorexia e bulimia

 

Conhecendo os transtornos alimentares

Os transtornos alimentares estão divididos em subtipos, que tendem a guiar a relação da pessoa adoecida com a comida e a própria autoimagem. Aqui, falaremos principalmente sobre os seguintes:

Anorexia – A pessoa se olha no espelho e, embora esteja extremamente magra, se vê obesa. Para alcançar o corpo idealizado, inicia uma dieta restritiva extrema, acompanhada de um exagero na atividade física e dos hábitos de jejuar e outros comportamentos de risco.

Bulimia – O indivíduo tem compulsão por comer, mas evita o ganho de peso através do hábito de vomitar (expurgar). Também pode haver a prática exagerada de exercícios físicos e de jejuns. 

Compulsão Alimentar (TCAP – Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica) – Caracteriza-se pela ingestão descontrolada de grande quantidade de alimentos, sem apetite e quase sem mastigar, até que seja alcançada a plenitude.

        Veja também: Comer emocional é diferente de compulsão alimentar

 

Preparando-se para as festas

Uma pessoa com TA acaba ficando mais exposta a gatilhos, crises e recaídas nessa época do ano. Mas é possível se preparar para determinadas situações sem precisar abrir mão do momento de celebração com familiares e amigos. 

Aliás, ter sua rede de apoio próxima – física ou virtualmente, o importante é ter uma forma de contato que funcione – é parte da estratégia para passar pelas festas. Sabendo da fragilidade do momento para a pessoa com TA, familiares e amigos podem ajudar deixando de focar no ritual da comida em si, mas no momento compartilhado. Outro ponto importante é não atuar como “fiscal”: não force ou estimule excessivamente a pessoa em questão a comer ou não comer. A intenção pode ser boa, mas a atitude só irá piorar a pressão e tornar o momento ainda mais desagradável para quem tem o transtorno.

A psicóloga sugere algumas técnicas que podem auxiliar nos momentos difíceis:

  • Se se sentir mais confortável, faça sua refeição principal antes das festas;
  • No pré-festa, escreva em um caderno como você está se sentindo e quais são as suas expectativas;
  • Tenha em mente alguém de sua confiança que estará na festa ou que você possa contatar de forma fácil (seja por telefone ou por mensagem de texto, por exemplo) para lhe dar suporte, caso você sinta alguma dificuldade, impulso ou sintoma mais intensificado.

        Veja também: IMC: Por que a fórmula não é suficiente para determinar quadro nutricional?

Ressignificando a relação com a comida

Embora não seja fácil, é possível desenvolver uma relação mais saudável com o hábito de comer. É o que traz a nutricionista Caroline Santos, também criadora do perfil Neném da Nutri, que fala sobre introdução alimentar de forma divertida e saudável, no TikTok.

“O primeiro passo para se ter uma boa relação com a comida é entender que a alimentação não está relacionada apenas a nutrientes, já que comer também é um ato social. É importante se atentar às quantidades, respeitar os sinais de fome e saciedade, comer com atenção e prazer. Tenha em mente também que será normal comer um pouco a mais nessa época, não se deixe consumir pela culpa nesse processo.”

 

As festas acabaram. E agora?

Em janeiro, é comum esbarrar em dezenas de artigos com dicas para “perder os quilinhos” ganhos no Natal e Ano Novo. Ao ver tanto uma mensagem, é normal se sentir pressionado, e assim, acreditamos que precisamos desesperadamente compensar os prazeres das celebrações com dietas restritivas e rotinas exaustivas de exercícios físicos. 

O emagrecimento – passageiro – pode até vir, mas a um custo muito alto para valer a pena, como ressalta a nutricionista. 

“Volte à alimentação mais equilibrada aos poucos, se hidratando mais, e comendo mais frutas, legumes e verduras. Não é necessário fazer nenhuma dieta ‘detox’, o corpo saberá lidar com esses exageros pontuais.”

Adriana complementa. “Tudo demanda tempo. Nenhuma ação desesperada lhe trará um emagrecimento saudável. Tenha tranquilidade para entender que o seu peso voltará ao patamar anterior à medida que você retome seu ritmo de vida normal.”

“Aproveite esse final de ano e tire um tempo para refletir sobre como o padrão social pesa sobre as nossas escolhas, sobre quem nós somos, como nos expressamos no mundo. Podemos aprender a cuidar de nós mesmos com carinho, sem sermos agressivos conosco”, finaliza a psicóloga. 

        Veja também: O preço da magreza

Gostou? Comenta aqui oque Achou!!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você irá ler nesta matéria