Dieta e tireoide: atenção aos alimentos que podem desregular a glândula – 17/09/2021

É consenso entre os especialistas em saúde que uma alimentação saudável é fundamental para o bom funcionamento do organismo. Para que a tireoide, uma glândula muito importante para controlar o metabolismo, exerça a sua função de maneira eficiente, observar os alimentos que vão para o prato é essencial.

Com a forma parecida ao de uma borboleta, a tireoide está localizada na parte da frente do pescoço, logo abaixo da cartilagem cricoide, conhecida como pomo-de-adão. É ela quem produz os famosos hormônios T3 (tri-iodotironina) e T4 (tiroxina), que a gente está acostumada a ver nos exames solicitados pelos médicos.

Reguladora da função de importantes órgãos como coração, cérebro, fígado, rins, ela interfere diretamente no crescimento e no desenvolvimento das crianças e adolescentes. “A tireoide é responsável pelo gasto energético e temperatura corporal. Também atua no nosso humor e no controle emocional, bem como na concentração, na regulação dos ciclos menstruais e na fertilidade”, afirma Marcella Garcez, médica nutróloga, mestre em ciências da saúde pela Escola de Medicina da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), diretora e docente do Curso Nacional de Nutrologia da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).

Uma dieta equilibrada e que contenha verduras, frutas, legumes, carnes, cereais integrais, ovos e peixes é fundamental para o bom funcionamento da tireoide. Porém, mesmo sendo saudáveis e devendo fazer parte do cardápio, alguns alimentos podem trazer prejuízos para a glândula, se consumidos em excesso (mais de três vezes por semana), por tempo prolongado, pois reduzem a captação do iodo pela glândula, e se o indivíduo tiver predisposição a alguma disfunção.

É preciso alertar que não existe respaldo na literatura científica para dizer que qualquer alimento, isoladamente, possa desestabilizar o funcionamento da glândula tireoide. “Os estudos demonstram que alimentos como os vegetais crucíferos e à base de soja só impactam a função da tireoide se forem consumidos em excesso e a glândula já apresentar alguma disfunção”, considera Garcez. “Porém como as patologias que afetam a tireoide geralmente iniciam por um processo inflamatório, os hábitos alimentares que aumentam perfil inflamatório, devem ser evitados”, alerta.

Cuidado com o iodo

O iodo na alimentação é fundamental para a fabricação do T3 e T4 pela tireoide. Manter uma quantidade adequada dele na alimentação diária mantém a tireoide em equilíbrio. Mas tanto a falta como o excesso de iodo podem levar ao bócio (aumento da glândula), ou alterar o seu funcionamento, com redução ou aumento da síntese desses hormônios, alerta a médica Renata Dinardi Borges Liboni, endocrinologista e professora do curso de medicina da PUCPR, Campus Londrina.

O iodo é encontrado no sal de cozinha, o chamado sal iodado, nos peixes de água salgada e nas algas. A recomendação diária de iodo para um adulto saudável é de 95 mcg, que corresponde a 120 g de salmão por dia, por exemplo. “O excesso normalmente é mais difícil de atingir, pois a quantidade limite seria em torno de 1.100 mcg. Seria necessário consumir cerca de 1 kg de bacalhau por dia, peixe este que é riquíssimo no nutriente”, exemplifica Michele Paola Lima, nutricionista e coordenadora de nutrição do Hospital INC (Instituto de Neurologia e Cardiologia) de Curitiba, no Paraná.

Para não errar na medida, a médica Carolina Ferraz, endocrinologista da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo), sugere usar apenas cinco pitadas de sal nos alimentos ao longo dia.

Selênio, um santo remédio

O selênio é um mineral essencial para as reações de formação dos hormônios T3 e T4 e auxilia no combate à inflamação da glândula. Ele está presente em grãos, peixes, ovos e na castanha-do-pará (aliás, uma das principais fontes do nutriente). “Alguns estudos demonstram que ao comer duas castanhas por dia pode ajudar a diminuir a inflamação causada pela tireoidite de Hashimoto“, afirma a endocrinologista Carolina Ferraz.

No entanto, segundo a médica, é importante frisar que o excesso de selênio também pode intoxicar, levando a quadro de selenose. Os sintomas incluem náuseas, vômitos, dor abdominal, fadiga, irritabilidade, descamação das unhas, perda de cabelo, mau hálito, distúrbios gastrointestinais e danos ao sistema nervoso. “Portanto, jamais faça reposição sem orientação médica”, alerta.

Consumo moderado de brócolis, couve e agrião

Entre os alimentos que podem ocasionar um bloqueio ou redução da produção dos hormônios tireoidianos, se consumidos em excesso, há destaque para brócolis, couve-de-bruxelas, agrião, repolho, couve, mostarda, rabanete, lecitina de soja, óleo de soja e tofu.

“O brócolis, por exemplo, contém glicídios cianogênios que bloqueiam a absorção de iodo pela tireoide, podendo causar hipotireoidismo. Já a soja e seus derivados podem alterar o funcionamento dos hormônios tireoidianos bem como reduzir sua síntese através da inibição da enzima tireoperoxidase”, explica Evelyn Susy de Oliveira, nutricionista clínica do Hospital INC de Curitiba, no Paraná.

Mas não é necessário cortar esses alimentos do prato, apenas consumi-los com moderação, duas vezes por semana. Para alcançar o excesso no consumo seria necessário tomar dois copos de suco detox com couve, por exemplo, diariamente. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), o limite de consumo é 10 mg por kg de peso. “Uma pessoa que pese 80 kg pode consumir até 800 mg desse glicídio. O que representa, aproximadamente, 200 g de agrião de jardim, por exemplo. Ou ainda, 300 g de couve-de- bruxelas por dia”, diz Oliveira

Outro componente que pode alterar a função tireoidiana, levando ao hipotireoidismo, é a isoflavona (fitoestrógeno), também presente na soja. “Esta alteração pode ser irreversível, mesmo com a suspensão do consumo”, alerta Marcella Garcez. Outros alimentos que contêm fitoestrógenos são cevada, centeio, ervilha e algas. Além disso, deve-se reduzir o consumo de alimentos industrializados, gordura saturada, ultraprocessados, álcool e tabaco.

Alimentos que devem estar no prato

Na presença de disfunções tireoidianas ou se houver uma tendência genética, a dieta deve incluir grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis. Além disso ela deve conter frutas, verduras e legumes ricos em antioxidantes, tais como morango, kiwi, ameixa vermelha, tomate, espinafre e abóbora.

“Também é recomendada uma dieta que contenha ômega 3, presente em alguns peixes, sementes e frutos secos, que pode melhorar a função imunológica e minimizar a inflamação”, orienta a nutróloga Marcella Garcez. A médica sugere ainda que alimentos ricos em proteínas magras, tanto de origem animal quanto vegetal, sejam incluídos no cardápio, bem como dar preferência a alimentos de cultivo orgânico.

Por que prestar atenção na tireoide?

Quando a tireoide não funciona direito pode liberar hormônios em quantidade insuficiente, levando ao hipotiroidismo. A principal causa do hipotiroidismo é a tireoidite de Hashimoto, uma inflamação crônica da glândula. “Ela se desenvolve quando o corpo produz anticorpos que atacam as células da tireoide, por uma reação autoimune, geralmente mediada por fatores genéticos. A maioria dos portadores evolui para o hipotireoidismo”, afirma a médica, que acrescenta que atualmente esta é a doença tireoidiana mais comum, e com maior incidência no gênero feminino, desde a adolescência até a meia-idade.

Os sintomas são relacionados a um metabolismo lento, com batimentos cardíacos baixos, frio excessivo, queda de cabelo, unhas fracas, perda de memória, sono excessivo, depressão, pele seca e retenção de líquidos, como explica a endocrinologista Carolina Ferraz.

Já o hipertireoidismo é o excesso de produção dos hormônios da tireoide T3 e T4. A principal causa é uma doença autoimune, a Doença de Graves. “Pacientes acometidos de hipertireoidismo apresentam perda de peso, sudorese excessiva, tremor, insônia, agitação, irritabilidade, diarreia e taquicardia”, diz.

Nessas duas situações, o volume da glândula pode aumentar, o que é conhecido como bócio. Por isso é essencial que o consumo de iodo e de selênio estejam adequados, para reequilibrar o funcionamento da glândula, juntamente com a medicação que é recomendada pelo médico.

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